ATENÇÃO: Este post é uma continuação do
anterior Mas, obviamente, você não é obrigado a tê-lo lido para ler
este.
A dentista passou uma infinidade de medicação,
entre eles uma injeção de anti-inflamatório que eu deveria tomar o mais rápido
possível. Quem precisou tomar injeção recentemente sabe como é difícil
encontrar farmacêutico em farmácias que se disponibilizem a isso, de sorte que
meu pai perguntou onde encontraríamos. A assistente da médica falou que lá
perto havia uma farmácia e que lá se aplicavam injeções há um tempo, só não
sabia afirmar se isso ainda acontecia. A dentista disse que fôssemos lá,
comprássemos o medicamento e, caso não aplicassem lá, voltássemos que ela mesma
aplicaria.
Lá fomos eu e meu pai. A farmácia passaria despercebida
se não parássemos para perguntar, porque era beeem pequena. Menor que minha
sala. Admito que tive preconceito:
- Mesmo que eles apliquem injeção aqui, a gente vai
voltar pra dentista aplicar, né?
- Que nada, filha! Aqui, eles também devem saber o
que estão fazendo.
Como o efeito da anestesia já estava passando e
minha boca estava começando a doer, preferi não discutir. Entramos e encostamo-nos
ao balcão, enquanto a atendente falava com uma amiga no telefone. Após o que
pareceu serem 5 minutos, ela estendeu a mão para que lhe passássemos a receita
médica, ainda ao telefone.
- Olha, me liga depois, preciso aplicar uma injeção
agora.
Mas não desligou. Continuamos aguardando, até que seu marido chegou
e pegou a receita da mão dela. Devolveu, provavelmente não era farmacêutico.
Ameaçou desligar o telefone, brigaram, ela desligou. Chegou perto da gente toda
desconfiada.
- Pra quem é essa injeção?
Levantei a mão. Falar estava se tornando incômodo.
- Pode vir pra cá.
Arrodeei o balcão e não soube mais aonde ir até que
vi, ao lado de uma privada, uma saleta do tamanho do box do meu banheiro.
Entrei muito desconfiada. Talvez devêssemos ir embora dali, arranjar outra farmácia...
Não tive tempo, em instantes ela estava ao meu lado mostrando o líquido que me
injetaria.
- É no braço, né? – perguntei.
- Pode ser nas nádegas também. Eu acho até melhor
porque a agulha é muito grande.
Arregalei os olhos, meu pai gargalhou, mas o marido
reclamou:
- Não assusta a menina!
Não me contive:
- A senhora é farmacêutica?
- É! E depois que eu aplicar isso aqui, você não
vai mais ter pobrema nenhum.
Sim, ela falou “pobrema”. Sim, entrei em pânico.
Desculpa, mas desconfiei na hora desse diploma que ela alegava ter. Olhei pro
meu pai, ele continuava rindo. Num sinal de mau agouro um cavalo do cão começou
a sobrevoar a lâmpada. Tive vontade de sair correndo. Quem me conhece sabe que
tenho pavor a insetos. Fechei a cortina, achando que assim, poderia manter o
bicho afastado.
Bom, se era para ficar com algo inutilizado, achei
que o braço me faria mais falta.
- Melhor na bunda mesmo.
Arriei a calça e aguardei. Foi rápido. Antes que eu
pudesse sentir o cheirinho bom do álcool que ela passaria, a picada veio. Pois
é. Ela não passou álcool no local da picada. Meu pai disse que ela deve ter
achado minha bunda muito limpa. Vai ver foi.
Compramos os remédios todos: anti-inflamatório,
antibiótico, remédio pra dor, algo para minha profilaxia e mais a injeção, tudo
por R$ 27,00. Olhei para meu pai, meu pai olhou para mim. Ambos achamos que
tantos remédios não sairiam por menos de R$ 100,00.
Pagou e finalmente voltamos para casa. No caminho
tentou puxar assunto:
- Tá pensando que vou continuar comprando nessas
farmácias famosas por aí? Não! Agora só venho comprar aqui!
Apesar da dor que agora se instalava com rapidez, sorri.
Lembrei do ambiente da farmácia, da farmacêutica que nos atendeu falando ao
telefone, do pobrema do qual ela me livrou e do álcool que ela não passou em
mim. No fim das contas, creio que tudo isso valeu a pena, (afinal, eu sobrevivera) pelo valor ínfimo que
pagamos por tanta coisa.
- É, pai. Acho uma boa ideia.