quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Sobre machismo e outras coisas

"Minha mãe vivia dizendo para não sentar no colo de homem nenhum. Achava tão desnecessário, mas hoje entendo. Ela tinha medo porque eu era apenas uma menina.

Maiorzinha, ainda criança, um garoto da classe me olhou e disse que eu tinha o rosto bonito, mas deveria esticar o cabelo para poder ficar linda.Eu acreditei porque eu era apenas uma criança, oras.

Cresci sendo chamada de morena-clara, morena-do-bundão, nêga-do-bundão, morena-do-pernão. Que eu era negra, mas tinha os traços finos. Que eu iria dar trabalho ao meu pai, que eu deveria saber dançar, que eu precisaria domar o meu cabelo. Nas brincadeiras eu era sempre empregada, secretária ou faxineira. Eu estava sendo discriminada, porque era uma menina negra."


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Post antigo que só to postando agora Deus sabe o porquê

Meu cachorro tá com um sério problema de coluna: hérnia de disco. E de vez em quando tem crises.
Por isso começou a fazer sessões de acupuntura, pra aplacar a dor.
O médico, leia-se veterinário, o proibiu de subir e descer coisas. Sofás, cadeiras, escada... tudo aqui em casa sofreu mudança por conta dele.
O mais fácil foi a escada. Compramos uma grade e colocamos lá para que ele não conseguisse subir, mas quando uma pessoa tem que passar, afasta e nem sempre lembra de por de volta. Foi o que aconteceu hoje à noite com meu pai.
Quando fui descer pra jantar, meu cachorro estava no quinto degrau olhando para o chão. Sentei à mesa pensativa. Como será que meu cachorro estava se sentindo por não poder mais subir e ficar conosco(eu e meu irmao) aqui em cima? Compartilhei minha preocupação com meu pai:
- O senhor acha que ele entende que a gente colocou a grade ali por causa dele?
- Com certeza! Todo mundo sobe, menos ele.
- Será que ele fica triste?
- Certamente. Por isso ele anda tão atacado.
- Mas será que ele não compreende que é pro bem dele? Por causa da coluna e tal?
Meu pai me olhou cético.
- Não, aí é demais, né?

Quando fui sair da mesa, sem querer, bati meu pé nele, que estava deitado embaixo dela, como sempre.
- Desculpa, Mike!
Ele ficou me olhando.
- Será que ele entende que foi sem querer, pai?
Meu pai tem muita paciência pra responder coisas sobre Mike. E antes que alguém pergunte, não, ele não é veterinário. E não, acho que não sabe do que tá falando. Mas gosto das respostas que ele dá.
- Claro! Ele sabe diferenciar uma agressão de quando é sem querer.

Ele é muito esperto! (Mike, não meu pai. Embora meu pai também seja) E tenho certeza que entende muito mais do que imagino... No mais, é ficar atento para não deixar o sofá livre, do contrário, tenha certeza que ele terá tomado seu lugar.
E não pense que vou tirá-lo de lá. Ele é que é de casa.

É Para Seu Bem

Recife, 27 de outubro de 2014.

Mike,

Hoje fui com Mateus te levar ao veterinário. Sei que você odeia ir para lá, mas acredite quando digo que fazemos isso para o seu bem. Não sei se você percebeu, mas você está com dois tumores: um na costela e um no tórax. Ambos do lado esquerdo. Sendo assim, te levamos a Dr. Rogério para que ele nos dissesse que eram benignos. A citologia, porém, foi inconclusiva e por isso você precisará passar por um procedimento chamado criocirurgia.
Te adianto que você nos odiará por isso. Mas repito: é para seu bem.
Como todo procedimento cirúrgico, você precisa passar por alguns exames. Dois você já fez hoje mesmo e o último Mateus vai te levar pra fazer na quinta.

Não se preocupe, tudo vai dar certo.
A gente te ama